Ali. Ali o teu sorriso meigo; olhas a Tina: a Tina, a tua irmã mais
nova, segue azul, pés descalços, no braço imenso saco, no outro estica-se um
guarda-sol. Sabes, Tina, quando assim era - melhor dito, naquela idade - o sol
vergastava a pele e chegada a noite doía nos lençóis, doía a pele. As moléstias
do sol. Tina. Levas um chapéu de palha na cabeça, avanças lenta e a eternidade
pesa-te nas costas porque o Armando: com a polaróide: corre duna acima, estaca
à tua frente e eterniza-te o saco, o guarda-sol e o chapéu e o movimento e o
sol escondido e o azul. A Françoise surpreende-se. Fala. Sabes, Françoise,
penso nisto: não deveria permitir que fales nessa língua que desconheço; sou
quem te escreve as memórias, não devia permitir. Mas tu falas, ignoras-me. Não
escrevo o que dizes (quase ficou: escrevo-te com o desenho das ondas do mar:
~~~~), mas o Armando transporta-te ao colo e tu levas as mãos à cabeça e ao
cabelo e ao lencinho colorido. Sabes, Françoise, não devia permitir. Tu
encolhes os ombros e seguras na malinha, as mãos como canguru. Lá ao fundo, as
rochas negras da maré vaza formam filas de gente fúnebre. Cláudia. Devia voltar
a ti porque a Tina pediu. Sabes, Cláudia, ainda és muito nova nesta história, quase
ainda por aparecer, embora já te tenha falado lá atrás. Pouco de ti se sabe.
Ainda é muito cedo para ti. Mas já se sabe: tu e o teu sorriso e o copo branco
na mão e o mar por trás de ti, calculo que o mar (de vez em quando, lembro-me
tão bem: o assobio do carro da Augusta, pedia umas meias para coser, por vezes
um casaco, a tua mãe Cláudia, e tu no carro de pau, a máquina de Lisboa.
Jo-se-fi-na. Foi a Tina quem pediu: veio agora e mandou-me falar de ti.) Lá ao
fundo, as pedras negras.
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