sexta-feira, 6 de maio de 2011

(excerto 8)

Tina, a Françoise afasta-se agora com o pai e com a mãe e comigo pela mão, e olho para trás, para a manta que és, tolhida de frio, dizes Fico bem e acenas, ali está o teu acenar, despedindo-se. Na feira há muita gente, as frutas, os peixes – para quê peixe se uns metros acima o mar? uma cana de pesca, um barco e uma rede e o peixe logo ali, parece tontice -, o pão, os brinquedos, a Françoise, mãos como canguru e o espanto das cores, onde o Armando?, não o tenho por esta memória, por certo na barraca nos frangos, por certo no meio do fumo, por certo por perto. O vermelho dos lábios da Françoise, o jeitinho de um passo à frente de outro passo, como os pés a qualquer momento pudessem cair deslocar-se partir; Françoise: caminhas como quem vai partir pés pernas. A mãe silenciosa, não se encontra aqui o som da mãe a falar, como se desprovida de palavras e de outros sons, uma enorme mãe silenciosa, presente, mãe. O pai segue à frente, leva as mãos nos bolsos, assobia e olha as bancas. A mãe pára, pergunta silenciosa, escolhe isto e aquilo, pega na saca, abre a carteira, tira o dinheiro, recebe o troco, guarda o troco, fecha a carteira, guarda a carteira, e o pai assobia olha vê e diz que sim. As mãos de canguru da Françoise. Pára ela de saltar, escolhe uma lojinha de roupinhas e carteirinhas e malinhas e tudo pequeno, parecem as medidas encolhidas, Françoise: és assim tão pequena?, e contempla admira observa estuda analisa examina. A vendedora: O que vai ser, menina? A Françoise:             . A vendedora: A menina precisa de ajuda? A Françoise:            . Françoise, apressa-te a falar, e se não souberes aponta, desembrulha as mãos de canguru. A Françoise aponta e a mulher recolhe uma malinha vermelha azul laranja. A Françoise abre a carteira tira o dinheiro entrega o dinheiro recebe o troco guarda o troco, o Armando aparece e diz-lhe. Vou proibir-te de falares assim também, Armando. Eu sigo pequeno, a mãe silenciosa tem-me pela mão, uns três quatro cinco anos, não sei se mais, parecem as memórias deslocadas da idade. Agora já posso falar do pónei cavalo, Tina. Depois da feira e da praia e da areia, nada de particular em falar da areia, ainda os lábios roxos, Tina. Ainda me cansará teu nome; imagina, sempre Tina, é um exagero.

Sem comentários:

Enviar um comentário